Talvez eu já tenha contado como eu descobri que gostava de escrever. Se não contei, vai ficar pra outro dia, foi mal. Ou seja, esse texto é um spin-off de outro que talvez nem tenha existido.
Com 36 anos nas costas e já sabendo muito bem (ou não) do que gosto ou não, treinado em autoconhecimento, liderança e várias outras coisas úteis (ou não), falo com tranquilidade que, sim, eu ainda gosto de escrever. Desde o momento que eu descobri, nunca desgostei. Só tive alguns (vários) hiatos, ora me senti cansado, ora fiquei puto com os algoritmos da vida, ou, claro, tudo isso ao mesmo tempo. Esse é o momento atual.
Tudo isso ao mesmo tempo.
Como se alcança o flow com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo? Um mundo cheio de mudanças, alternativas e oportunidades também oferece desafios imensos. A lenda do multitasking nunca foi tão contestada. As ferramentas de inteligência artificial nos ajudam em muitas coisas, mas nos atrapalham em tantas outras. É tudo tão rápido - ou líquido, como diria Bauman - que flui numa velocidade perceptivelmente impossível de se seguir. Que arremesse a primeira pedra quem não se sente à beira de um rio com a correnteza fluindo com força, vendo pessoas passarem num barco a motor com velocidade e você se levanta desesperadamente, tentando colocar sua jangada na água, enquanto o vento sopra sem muita força - ou para o lado contrário.
O tal do FOMO - fear of missing out, ou o medo de não fazer parte de algo - só se fortalece a medida que passamos cada vez mais tempo nas redes sociais, ou a cada podcast sobre produtividade no trabalho que ouvimos, ou, pior ainda, a cada artigo no LinkedIn de alguém enchendo linguiça sobre algum assunto aleatório com a profundidade de um pires. "Só eu não estou ali, cheio de likes. Só eu não estou trabalhando enquanto eles dormem. Só eu não estou estudando algo que poderia estar."
E talvez você só esteja cansado - de tanta coisa ao mesmo tempo - e precisa de uma pausa para se cuidar melhor, sem a interferência de um ambiente tóxico como o mundo que vivemos em muitos momentos.
Tenho tentado cuidar de mim mesmo o máximo possível, como talvez nunca tenha conseguido. Desde janeiro de 2024, tenho acordado cedo o suficiente pra fazer o galo cantar e pra ir abrir a academia junto com alguns cinco ou seis outros malucos e malucas.
Estar com a saúde física em dia faz um bem danado pra saúde mental e, de segunda à sexta (no mínimo) lá estou eu. Pra isso, tive que mudar meu hábito de ir dormir tarde pra, claro, acordar cedo e não ficar caindo pelas tabelas durante o dia. Às vezes, principalmente quando tem um futebolzinho na TV, eu quebro o protocolo, durmo menos e eventualmente preciso de um reforcinho pra seguir o dia (Red Bull, me patrocina).
O lance é que, em 2023, eu não tinha essa frequência toda de praticar atividades físicas e, mais do que isso, tinha, aí sim, uma frequência grande no restaurante da rede Frango Assado pertinho do trabalho. Foram muitos os cafés da manhã dos campeões: pão de queijo com um red bull (zero, claro). Malandro que sou, me recusei a pesquisar o quanto tomar energético todos os dias pode fazer mal. Isso diminuía a culpa e me mantinha apenas com a desculpa mental de "é, faz mal, não posso exagerar, mas hoje tô precisando de um" – além de ser um hábito caro.
As idas à academia pela manhã me dão a dose de endorfina que meu corpo precisa pra acordar. Talvez seja o equivalente a pegar no tranco, mas é um tranco que tem uma importância incalculável. Eu descobri, com 36 anos, que eu gosto - e sempre gostei - de fazer musculação. Já tive N motivos pra não frequentar a academia: horário, dia, incompatibilidade, preço de plano, falta de amigo pra ir junto e muitas outras coisas. Hoje, eu percebi que a musculação é, pra mim, uma atividade individual.
Por mais que eu vá com alguém (principalmente nas viagens com a firma, que, volta e meia me proporcionam companhia ir treinar cedinho), o ritual é: fone no ouvido, música alta e garrafa d'água cheia. Mais recentemente, me tornei tecnológico o suficiente pra usar um app com meu treino e que controla o tempo de realização dos exercícios e descansos. Quantas vitórias!
Pra melhorar mais ainda, se o ambiente normalmente hostil das redes sociais me ajudou e me inspirou quando comecei a ver os amigos postarem suas fotos/vídeos treinando, hoje posso falar que já teve uma quantidade considerável de pessoas que me mandaram alguma mensagem parabenizando pela rotina de treinos matinais, dizendo que isso, de alguma maneira, também inspira. E se inspira os amiguinhos, faz um carinho no coração e na mente também.
Cuidar do corpo, aliás, é cuidar da mente. E, claro, cuidar da mente também é cuidar do corpo.
Sabe aquela história de que você é um na vida pessoal e outro na vida profissional?
Mentiram pra você. Afinal, você é um só. Um único ser humano. Um ser humano único, que não consegue dissociar e viver um mundo de maravilhas no trabalho com uma vida pessoal bagunçada em casa, ou viver uma vida maravilhosa em casa estando cheio de problemas no trabalho. E não tem como estar com o corpo são e a mente bagunçada, ou estar infeliz/de mal com seu corpo e em paz com sua mente. Não é necessariamente sobre emagrecer, ou mesmo sobre se aceitar, mas sobre se cuidar, mesmo.
Desde que me tornei pai, ouço o Thiago Queiroz, do Paizinho Vírgula (e, mais recentemente, do Pausa pra Sentir). Além de trazer a paternidade pra mesa com conversas incríveis, ele tem trazido à tona, nessa empreitada mais nova, diversos outros temas e, em um dos programas, o assunto foi justamente o se cuidar. Aprendi com ele que ir treinar "na força do ódio" tende a te desmotivar mais do que motivar. Isso por um motivo simples: como raios podemos entrar em um estabelecimento (que cobra taxas pra você estar lá) para cuidar daquilo que temos de mais precioso (nosso corpo e nossa saúde) com ódio?
Claro que levantar da cama às 5h da manhã numa terça-feira (porque, sim, pra mim, terça é bem pior que segunda) não é a tarefa mais fácil do mundo. Tampouco vou sair cantarolando de casa de felicidade por ir treinar, mas, uma coisa é certa: no amor é muito mais fácil - e prazeroso - do que na dor.
Com minha música alta no ouvido, seguindo a rotina que o app me mostra, e em "carreira solo", eu entro no estado de flow. Sim, na academia. Concentração, objetivos claros, satisfação plena em estar ali. Me tornei quem eu mais temia: o cara que te convence a levantar do sofá e se movimentar, fazendo um baita textão pra isso.
Não é pelo medo de não fazer parte, não é pelo corpo perfeito. É pela saúde, de corpo e mente.
E também pra aguentar pegar os filhos, cada vez maiores, no colo. Pra jogar bola e pra pular corda - não sou bom em nenhum deles. Pra carregar caixas na mudança de casa. E pra suportar o dia a dia.
Tudo isso ao mesmo tempo.
(DJ, sobe o som de Alucinação, do Belchior agora)
Beijos de luz e até a próxima,
Luigi"