O aniversário é das crianças, mas o presente é seu. Voltei a escrever, porque a vida me inspirou a isso. E eu só tenho a agradecer. Dê o play na música que vem embalando meus últimos dias, I'm Still Standing, do Elton John, mas na versão do maravilhoso filme Rocketman, interpretada por Taron Egerton. Ah, e se você ainda não se inscreveu na newsletter, é só clicar no botão aqui embaixo e ser feliz. Prometo que vou escrever mais, mas só se você se inscrever (risos).
Misticismo e magia
Não sei dizer se cinco anos de idade são uma idade mística. Até porque já faz 29 anos que eu já passei dessa fase. Imagino ser importante, pois é daí que vêm as primeiras memórias que tenho na vida, coisas que me lembro mesmo que vagamente, mas que ainda estão lá, preservadas por meus divertidamentes.
São 21h50 do dia 22 de agosto de 2022. Neste horário, há exatos cinco anos atrás, eu estava na sala de parto, prestes a presenciar a mágica acontecer. Sem ter a menor ideia do que estaria por vir nos próximos minutos e, claro, nos próximos anos. Primeiro, nasce o Joaquim, às 21h59. Depois, Sofia, às 22h. E pronto, me tornei pai no plano físico, porque quando as crianças estão na barriga, a gente já é, mas quando pega no colo, tudo muda.
Não existe um curso preparatório sequer ou texto que consiga explicar duas coisas sobre a paternidade. E eu também não sou esse cara que vai desmistificar ou dar lições sobre isso, não, mas, sim, contar minha experiência.
Coisa um: é mágica a emoção que se sente ao pegar um filho no colo (ou dois, no meu caso) quando nasce. Você aí, que está lendo, sabe que eu gosto de escrever. E eu me vi completamente sem palavras naquele momento. Aliás, já se passaram cinco anos e eu ainda não consigo descrever. O ineditistmo, misturado à alegria, ao senso de responsabilidade, à vontade de rir, de chorar, de gritar, de dar socos no ar comemorando um gol de placa. E mais algumas outras sensações. Tudo rigorosamente ao mesmo tempo.
Dali pra frente, tudo mudou, tudo ficou diferente. Não éramos mais dois. A família dobrou de tamanho e nos tornamos quatro. Por mais leituras, cursos ou qualquer coisa que tivéssemos feito, nada teria nos preparado para tudo aquilo que aconteceria do 23 de agosto de 2017 em diante. Tivemos que trocar de carro, posteriormente mudar de casa, ter uma reeducação financeira bruta e por aí vai. Mas não é de nada disso que quero falar hoje, não.
A paternidade é o maior exercício de empatia que existe na nossa vida. Sentir-se no lugar do outro é moleza quando o outro tem a sua idade. Seja esse outro pelo menos um adulto, ou mesmo um jovem vivendo algo que você lembra ter vivido. Ou seja, aquele seu primo ou irmão mais novo que faz besteira na balada hoje é o você de ontem - e por isso, você minimamente sabe lidar com a situação.
Empatia em dois passos
E como ser empático com uma sensação, ou sentimento, vindo de um serzinho de 0, 1, 2, 3, 4 anos? Vivemos em meio a adultos, em ambientes profissionais agitados, lares familiares conturbados, sem falar em cenários políticos, econômicos e afins. Se num primeiro momento é difícil ter concordância com alguém que te entende, fala a mesma língua que você e, em muitas vezes, tem uma bagagem de vida parecida com a sua, imagina só com uma "mini-vida", com menos de meia década de existência.
Aí vem o exercício de empatia, parte um: empatia dos outros para com o pai/mãe, em tentar acolher se houver abertura ou necessidade.
Esse é o tipo de coisa que você só aprende, literalmente, vivendo. Quem nunca pegou um avião ou um ônibus acompanhado de uma família com um bebê chorando? A visão de um pai ou mãe tende a ser completamente diferente da visão de alguém que não tem filhos. E aí vem a coisa dois que nenhum curso preparatório ou texto explica: sabe aquela emoção mágica do começo da vida do bebê? Ela segue existindo, mas com alguns momentos, digamos, mais intensos e um pouco menos literalmente emocionantes.
Imagine-se na outra ponta desse caso do avião: você é a mãe ou o pai com o bebê chorando e já tentou de tudo. Trocou fralda, deu mamadeira, cantou, leu historinha, ninou, conversou e nada acontece. Aquela pequena vida depende de você. É o senso de responsabilidade, que apareceu lá na sala de parto, dando as caras. Você precisa fazer a criança se sentir bem, acabar com a cólica, a fome, o sono, talvez tudo isso ao mesmo tempo. E sendo julgado pelo ambiente ao seu redor, que não está passando por isso naquele momento.
Mas, cá entre nós, como você consegue se colocar no lugar de alguém que não sabe nem dizer direito o que sente? Ou, se já aprendeu a falar, ainda não sabe lidar com frustrações de coisas (ao nossos olhos) pequenas, como não poder pegar um brinquedo que o irmão tem em mãos no momento. Como?
E vem o exercício de empatia, parte dois: do pai/mãe para com a criança
Não poder brincar, assistir um desenho, usar uma determinada camiseta, comer um doce, pegar um brinquedo pode ser tão grave - e frustrante - quanto não conseguir pagar uma conta no final do mês. Na cabeça da criança, a frustração começa nas pequenas coisas do dia a dia. Afinal, é a vida que ela vive. Quebrar um carrinho Hot Wheels é tão doloroso quanto você bater o carro, sim.
E claro que não é fácil lidar com essas pequenas (novamente, aos nossos olhos) frustrações infantis. Ainda mais quando estamos, como falei ali em cima, em ambientes profissionais agitados, lares familiares conturbados, sem falar em cenários políticos, econômicos e afins. Todo o nosso entorno só contribui com que seja ainda mais difícil ter paciência com a criança que, claro, não tem culpa alguma. Talvez, aliás, ela até tenha culpa pelo brinquedo ter quebrado (estava brincando de arremessar o carrinho na parede, por exemplo), mas não tem culpa de você estar bravo ou estressado, ou mesmo de ter dificuldades de lidar com a situação.
(parênteses rápidos, entre parênteses: em um certo dia no colegial, eu estava em uma sala de aula que não era a minha, enquanto minha turma tinha um horário vago. Era uma aula de biologia, com uma professora que eu já tinha tido aula por alguns anos e eu não atrapalhava a aula: só estava ali para me divertir com os amigos da outra turma. Um dos meninos, que era frequente vítima dos colegas, que escondiam seus materiais, grita em meio à aula: "puta que pariu!" Em choque, a professora fala: "mas isso são modos, menino?". No que, prontamente, o menino responde: "professora, os caras pegaram a minha mochila. Você quer que eu diga o quê? Benza Deus?". Errado não estava e a professora percebeu, apenas pedindo para que os colegas devolvessem a mochila, enquanto todo mundo ria da situação.)
Eu contei essa história no modo side-quest simplesmente para dizer que: não tem como dizer pra criança "Benza Deus, seu carrinho quebrou!", mas também não tem como condenar uma criança por um ato destes, ora impensado, ora pensado (seja para chamar atenção, ou só para brincar mesmo). Repito: a paternidade é o maior exercício de empatia que existe em nossa vida. E tome conversa, acolhimento, colo, abraço e por aí vai.
Cortando o bolo
Voltamos pra 2022, dias atuais. Cheguei do trabalho e vi minha casa cheia de crianças - nem metade das que estarão na festa real-oficial de aniversário dos gêmeos. A sala era a área de artesanato. O escritório, a área de desenho. O quarto deles, o ringue de luta. Minha chegada foi comemorada como em todos os dias em que chego aqui, mas com uma intensidade menor. Digamos que os dois estavam mais ocupados com a presença da galera toda aqui.
Mil brincadeiras depois, vem o momento do parabéns. Custei pra conseguir chegar perto da mesa, mas cheguei. Cantamos juntos, nós quatro, com todas as crianças e mães do outro lado da mesa. Tiramos uma foto e saí de cena pra entrarem as crianças e tirarem suas fotos com os dois aniversariantes, estrelas do dia. Vem a hora do primeiro pedaço e: perdemos. O Joaquim deu o primeiro pedaço pro Gustavo, enquanto a Sofia deu o primeiro pedaço pra Bia.
Não sei dizer se os cinco anos de idade são uma idade mística, mas os cinco anos dos gêmeos aqui são sim. Perdemos os primeiros pedaços de bolo (e os segundos também), mas por uma ótima causa. Nada é mais gostoso do que ver e sentir a felicidade dos dois num momento como o aniversário deles. Afinal, paternidade é o maior exercício de empatia que existe na nossa vida.
Beijos de luz e até a próxima,
Luigi”